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90 anos de Flavio-Shiró na Pinakotheke Cultural

23/09/2018 - Por ArtRio

A Pinakotheke Cultural Rio de Janeiro apresenta a exposição “Flavio-Shiró”, que comemora os 90 anos do celebrado artista, nascido em 1928, em Sapporo, Hokkaido, Japão, que chegou ao Brasil aos quatro anos. Desde 1953 vive e trabalha em Paris, mas mantém estreita ligação com o Brasil. A exposição reúne 44 pinturas sobre tela e papel, desenhos, fotografias, além de objetos, todos de sua coleção particular, percorrendo sua trajetória desde os anos 1940 aos dias atuais. A abertura para convidados será no dia 24 de setembro, às 19h.

A exposição é acompanhada de um livro, “Flavio-Shiró” (Edições Pinakotheke), com formato de 21 x 27 cm, 216 páginas, texto de Paulo Herkenhoff, imagens de obras, e uma cronologia do artista. Haverá ainda a exibição de filmes em curta-metragem sobre o artista, dirigidos por seu neto, Adam Tanaka, e Margaux Fitoussi. A produção executiva da exposição é de Josué Tanaka, filho do artista.

Esta é uma rara oportunidade de o público fazer uma imersão na obra de Shiró, pintor oriundo de três universos distintos – nasceu no Japão, cresceu no Brasil e há mais de seis décadas divide seu ateliê entre Paris e Rio de Janeiro. “Trata-se de um artista polivalente e internacional, mas talvez coubesse melhor designá-lo como transcultural, pois a obra propõe a convivência do intercâmbio Ocidente/Oriente,
Norte/Sul ou Sapporo/Tomé-Açu/Paris”, escreve Herkenhoff.

A mostra traça um panorama da obra do pintor, desde o figurativismo até o princípio de sua vida em Paris, em 1953, a transição para o abstracionismo informal, até a retomada da figuração, sempre tendo o gesto como expressão basilar. Sua relação com o cinema também está presente nas pinturas “Bonheur” (1965), que retrata a cineasta e sua amiga Agnes Varda, e “Madadayo” (2007), em alusão ao filme homônimo de Akira Kurosawa (1910–1998), e ainda “Contos da Lua Vaga” (2014), mesmo nome de um célebre filme de
Kenji Mizoguchi (1898 – 1956). 

As telas “Matéria III” e “Camargue”, da década de 1950, presentes na exposição, estiveram também no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1959, quando Shiró ainda assinava Flavio S. Tanaka. “Um quadro de Shiró explodia como a convulsão da matéria do mundo na liberação daquilo que pareciam forças do caos; a massa pictórica incorpora-se em enervação, e a pintura é uma carnalidade vibrátil”,
destaca o crítico em seu texto.

HUMANISMO X GUERRA
Shiró faz questão de destacar que tem “uma raiz forte ligada ao expressionismo”, suas “raízes emocionais”. “Gosto das ideias humanistas”, explica, observando que sua pintura “sempre faz alusão a alguma coisa”, e não é abstrata, “é mais do que um prazer estético”. Herkenhoff assinala que a obra de Shiró, já desde meados de 1950, traz uma “dimensão cultural-antropológica do signo da pintura”, e que é, entre os artistas brasileiros, o que traz “a agenda internacional mais consistente em relação a problemas globais de guerra atômica, do papel do Estado e do desastre ecológico”.

Na década de 1960, escreve o crítico, a obra de Flavio-Shiró”não discute apenas a guerra do Vietnã, mas toda guerra”. Em meados dos anos 1970, “Flavio-Shiró sintetizou sua múltipla herança cultural e condensa seu imaginário em questões que explorará em profundidade nas décadas seguintes. Pintar incluirá ativar a memória produtiva da fantasmática e deixá-la emergir perturbadora ao plano do visível. Sua memória da infância se dividiu entre Sapporo no Japão (até 1932) e a vida ribeirinha às margens do Tomé-Açu no baixo Amazonas (1932 a 1939)”.

Hoje em dia, ele “evoca os contos aterrorizantes japoneses que sua mãe lhe contava para apaziguar o medo infantil antes de dormir”, do mesmo modo que Louise Bourgeois produzia uma arte da recordação das cantigas de ninar de sua mãe”. “Essa dimensão do simbólico está ao lado das conquistas do artista e ressurge como força atuante na invenção da arte da maturidade avançada como pulsão de vida”,
comenta o crítico.

Na década de 1990, a sua pintura reacende em nova chave cromática e se desprega da relação entre pincelada e desenho. “Paradoxalmente, este estágio barroco de sua pintura não tem a presença de monstros e fantasmagorias, como pode ter acontecido nas décadas anteriores”, afirma o crítico.

Por sua vez, no século 21, “o tema que anima os meus trabalhos continua evoluindo ao mesmo imaginário através de uma visão transfiguradora e poética”, diz o artista. Paulo Herkenhoff comenta que “a isto podemos chamar de arte como projeto de vida. Prossegue em sua trajetória e se depura como pintor sintético e denso. Seu imaginário pulsa pleno com o vigor da matéria e se move por vontade de experimentar ideias e por curiosidade técnica. Algumas questões plásticas têm envolvido a mente inquieta de Shiró: objetos; invenções; experiências com a xilogravura e a nova inflexão em sua pintura, com formas audaciosas”.

Artista presente e premiado em salões e bienais, com destaque para o Prêmio Internacional de Pintura na Bienal de Paris de 1961, Flavio-Shiró vem expondo seu trabalho em individuais e coletivas no Brasil e em países como França, Japão, Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica e Itália. O artista já ganhou retrospectivas no Japão – Museu Hara, em 1993 –, e no Brasil, no MAM Rio de Janeiro, em 1993, no
MASP, em 1994, no MAC Niterói, em 1998; e no Instituto Tomie Ohtake, em 2008.

SÁBADOS NA PINAKOTHEKE
Em torno da exposição “Flavio-Shiró”, a Pinakotheke Cultural realizará ao longo de alguns sábados, das 11h às 13h, atividades gratuitas para  crianças em seu jardim, ou, em caso de chuva, no espaço expositivo.

A mostra vai até o dia 17 de novembro. A Pinakotheke Cultural fica na Rua São Clemente, 300, Botafogo. Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 16h. A entrada é gratuita. Visitas escolares poderão ser agendadas pelo telefone 2537-7566. Entrada gratuita.

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